As pesquisas da neurociência nos revelam que escrever é uma atividade cultural
Elvira Souza Lima
As pesquisas da neurociência nos revelam que escrever é uma atividade cultural, isto é, o cérebro precisa se organizar para escrever, uma vez que nele não há uma área específica para a escrita como há para a fala. É pela integração de várias áreas do cérebro que o ser humano chegou à escrita Pelo desenho a criança desenvolve algumas destas áreas, mas para que elas se tornem memórias é necessário que a criança desenhe continuamente. Ao desenhar a criança traça a linha dando-lhe a forma que se origina em sua imaginação. O traçado, pelo exercício da imaginação, se transforma em significado narrativo. Paulatinamente, com o exercício da simbologia das formas gráficas e a construção do signo gráfico, a criança entenderá os elementos que formam as palavras e que cada palavra também tem um significado.
No currículo Viver a Infância, as atividades de lápis e papel comumente utilizadas para ensinar a escrever aos 4 e 5 anos foram substituídas por atividades que desenvolvem as áreas do cérebro necessárias para escrever. Todas as crianças inseridas neste currículo, mesmo sem ter tido atividades com letra bastão ou cursiva, apresentam, no primeiro ano do Ensino Fundamental, a evolução que mostraremos a seguir A criança em questão foi introduzida à letra bastão no primeiro ano, mas não à escrita cursiva. No entanto, quando solicitada a escrever no papel a sentença O gato mia., ela o faz sem dificuldade.
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Formas circulares
A criança inicia a atividade simbólica do desenho pelo registro com movimentos repetidos evoluindo para formas circulares e fechando a linha. Aos 4 anos, no início do ano, ela apresenta exploração do desenho com uso de linhas que se organizam em formas arredondadas ou com ângulos. Já surgem organizações de traçado que são as bases para escrever na cursiva, inclusive, letras como t l b p q f g d.
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Formas semicirculares
A prática diária do desenho leva ao domínio de linhas semicirculares. Nos desenhos das borboletas, percebe-se que as asas, ao serem separadas do corpo, formam nitidamente a forma cursiva da letra E e o algarismo 3. Podemos identificar neste desenho os movimentos necessários para traçar todas as letras do alfabeto. Além disso, a criança desenvolveu a simetria e senso de proporção, claramente presentes na composição e, igualmente, necessários para escrever.
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Escrita cursiva
Mesmo sem ter sido ensinada a escrever em letra cursiva, quando solicitada a fazê-lo (escrever O gato mia.) ela é capaz de fazer a discriminação de cada palavra e organizá-las no espaço do papel sem pauta. Assim, aos 6 anos, frente à tarefa de copiar a sentença escrita na lousa em letra cursiva, a criança utiliza os acervos de sua memória de traçados e de organização espacial, realizando com segurança a escrita cursiva, incluindo o ponto final. As formações neuronais obtidas com a prática extensiva e diária do desenho possibilitam dominar totalmente os aspectos gráficos da escrita. Constatamos, então, que há um processo natural no percurso do traçado do desenho ao traçado da escrita cursiva Elvira Souza Lima é pesquisadora em desenvolvimento humano, com formação em neurociências, psicologia, antropologia e música.
http://www.revistaei.com.br/edicao/10/tracados-e-sentidos/do-desenho-a-escrita
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