quarta-feira, 19 de março de 2014

Pasta viajante: atividade permanente de leitura que dá certo!

 Educação Infantil - Leninha Ruiz

Cada
Cada criança possui uma pasta com grampos, entregue pelo professor depois de um convite para todos se sentarem em roda para escutar a leitura. Foto: Gabriela Portilho
Todas as semanas, as crianças das turmas de 3 a 5 anos têm na rotina a atividade da pasta viajante. Em um dia definido pelo professor junto com os familiares na reunião de pais, elas recebem o impresso de um texto lido em aula e levam para casa para que pai, mãe ou irmãos releiam para elas. Esse é um momento de ampliação cultural e tem como finalidade o que toda boa leitura deve ter: permitir que as crianças se divirtam, se emocionem ou fiquem intrigadas com o que escutaram.
“Mas como funciona esse trabalho e qual é seu objetivo?”, vocês devem estar se perguntando. Vou explicar.
Cada criança possui uma pasta com grampos, entregue pelo professor depois de um convite para todos se sentarem em roda para escutar a leitura. A cada semana, é entregue aos pequenos um novo texto para ser integrado ao material – os maiores de 5 anos o recebem já perfurado para que abram o grampo e encaixem-no, enquanto os de 3 e 4 anos já recebem a pasta com o impresso daquela semana.
O objetivo da atividade é o professor ler em voz alta, enquanto as crianças acompanham o texto escrito em suas próprias pastas. Antes, no entanto, acho bacana o professor fazer uma “propaganda” do que todos ouvirão, dizendo algo assim: “Turma, eu achei muito engraçadinha a poesia desta semana, ri muito! Ouçam para ver o que vocês acham”.
Depois da primeira leitura, o professor lê mais uma vez, agora convidando os pequenos a acompanharem o que está escrito, passando o dedinho sobre o texto, numa imitação do comportamento leitor, já que as crianças ainda não são leitoras de fato. Nessa hora, ele também faz um combinado com as crianças: “Vocês vão levar esse texto divertido para casa e vão pedir para uma pessoa ler para vocês, certo? Depois, vocês mesmo podem ler do seu jeito, pois já vão saber quase ele todo, não é mesmo? Lembrem-se de trazer a pasta de volta depois, está bem?”. Dentro da pasta, o professor pode colocar um bilhetinho para a família, explicando a atividade. Vocês podem acessar um modelo clicando aqui.
As famílias sempre nos contam que, quando os alunos chegam em casa com o material, pedem logo para um dos pais e até mesmo para os irmãos mais velhos lerem para eles ou, então, querem fazer a leitura por conta própria, já que, muitas vezes, já memorizaram parte da poesia, parlenda ou  história.
A importância da leitura pela leitura
Quero deixar claro que a proposta dessa atividade não é nada mais que fazer a leitura do texto pelo prazer em si. Converso bastante com os professores que chegam à escola e querem pedir para as crianças grifarem palavras e/ou circularem letras dos textos, pois não é essa a proposta. O que queremos é o prazer, que as crianças gostem de ouvir os textos e queiram que leiam para elas. Aqui, aproveito para ressaltar que temos de escolher os textos com muita cautela para que os pequenos gostem. Por isso, tivemos o cuidado de, ao longo dos anos, montar um acervo bacana e adequado para cada faixa etária com textos numerados de 1 a 35, que é mais ou menos o número de semanas de um ano letivo.
Para o grupo de 3 anos, por exemplo, os primeiros escritos são letras de música que os professores costumam ensinar na escola. Depois, entram as quadrinhas de nosso projeto de oralidade e, em seguida, poesias variadas e o repertório de canções de Vinícius de Moraes no segundo semestre.
Na turma de 4 anos, colocamos outras poesias, como as de Cecília Meireles e Elias José, no primeiro semestre, e letras de música no segundo.
Para as crianças de 5 anos, escolhemos, além de poesias, algumas histórias e muitas parlendas. Estes últimos serão os textos escolhidos para memorizarem e se arriscarem na escrita do que sabem de cor. Você pode acessar aqui a seleção de textos prevista para o período de março a junho deste ano.
E então, o que você achou dessa proposta? Na sua escola tem alguma proposta semelhante? Compartilhe conosco!
Um grande abraço, Leninha
TAGS:                                                                                                                     Link:  http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/coordenadoras/2014/03/18/pasta-viajante-atividade-permanente-de-leitura/         

domingo, 16 de março de 2014


Revista Pátio Educação Infantil
 Janeiro/ Março/2014

  Não deixe de ler essa revista, contém  artigos voltados a Desafios da Educação Infantil.
Artigos de : Katia Stocco Smole, Ofelia Reveco Vergara, Peter Moss e Vital Didonet.   
Uma entrevista com Rita Coelho, onde responde muitos pontos de interrogação sobre a educação infantil. 
Acesse também: http://www.grupoa.com.br/revista-patio/Default.aspx

sexta-feira, 14 de março de 2014

Pequenos artistas

Chega de casinhas com chaminés. A criatividade aparece quando você investe no trabalho com desenhos na creche e na pré-escola
Tatiana Achcar







Foto: Gilvan Barreto

Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças." A frase do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973) - referindo-se ao pintor renascentista Rafael Sanzio (1483-1520) - demonstra a importância de valorizar a riqueza artística nata dos pequenos. "É comum a idéia de que o desenho é uma ação espontânea da criança e que, portanto, não precisa ser desenvolvido", afirma a psicóloga Mônica Cintrão, da Universidade Paulista, em São Paulo. Num outro extremo está o uso de figuras infantilizadas produzidas por adultos, como elefantes com lacinhos, reduzindo o aprendizado em Artes a atividades de colorir.

O resultado dessa prática aparece desde o início do Ensino Fundamental. Muitas crianças afirmam que não sabem desenhar. Na hora da atividade, apresentam trabalhos estereotipados, traçando casinhas com chaminé e árvore no jardim, montanha com sol poente, gaivotas e homens-palito. Esses mesmos desenhos vão segui-las pela vida toda.

No livro Arte na Sala de Aula, Rosa Iavelbeg, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, aponta que os desenhistas têm idéias próprias sobre o que fazer e são elas que regem suas ações e interpretações. O desenho não é simplesmente a representação do mundo visível, mas uma linguagem com características próprias, que envolve decisões individuais e de culturas coletivas. "Ao ter isso em mente, o professor evita enquadrar os estudantes em visões parciais e deformadas sobre os atos de desenhar e de ler desenhos." 

Quando o desenho é desenvolvido na Educação Infantil (leia o quadro nesta página), não ocorre o empobrecimento do grafismo, que, de acordo com alguns autores, se dá a partir dos 9 anos. O "cultivo" envolve informação e intervenção do professor e a interação do aluno com a produção dos colegas, com o meio natural e cultural e com a prática de artistas. 

Atividades desse tipo têm lugar no Centro de Educação Infantil Gente Miúda, em Curitiba, e na EMEI Papa João Paulo II e no Instituto de Educação Santiago de Compostela, ambos em São Paulo. A professora Rosângela Barbosa Ferreira de Medeiros, da João Paulo II, planeja seu trabalho de forma que os alunos desconstruam o mito de que não sabem desenhar. "Quero que valorizem suas idéias e que não se submetam ao desenho figurativo só para agradar ao adulto." 

De acordo com Rosa Iavelberg, cabe ao professor articular as práticas das crianças ao valor da arte na vida e na sociedade, às técnicas existentes e ao conceito de desenho. Para isso, Mônica Cintrão defende a importância de conhecer as transformações do desenho infantil (leia o item As etapas do grafismo). Essas informações ajudam a avaliar e a planejar as intervenções que devem ser feitas durante todo o ano letivo.

Diferentes materiais 



                                                                                        Foto: Gilvan Barreto
Para agir de forma produtiva, o professor precisa ter consciência sobre o que os pequenos devem aprender. Assim, pode se guiar pelas fases dos desenhos e pelas práticas criativas das crianças. Para começar, é importante ampliar o conceito de desenho. "Ele não é uma linha de contorno que representa um objeto. É ação sobre uma superfície que produz algo para ser visto", explica Rosa. 

Durante as aulas, é preciso criar constantemente situações em que a criança desenhe sobre o tema que quiser e experimente vários materiais - lápis, tinta, giz de cera, carvão - e diversos suportes - papel, chão, areia, parede...
 

A avaliação dos trabalhos também vai determinar a evolução das futuras produções artísiticas. Por isso, é necessário valorizar o desenho de todos e dialogar com os alunos sem impor o juízo estético adulto. Perguntar "o que é isso?" aos pequenos ou pedir que eles contem a história do desenho não é recomendável. "Isso induz a criança a tentar interpretar o desenho e a dar nome a traços que não foram feitos com a preocupação de serem nomeados. É preferível pedir que a criança fale do seu trabalho", diz Rosa.
 

Guarde as produções de cada estudante numa pasta e retome-as depois numa roda de apreciação. "Não importa se faz tempo que o desenho foi produzido. Mostrá-lo cria referência de que ele foi feito por alguém e pertence a um conjunto de obras", explica Rosa. Tudo isso contribui para a turma deslanchar e começar a elaborar traços mais criativos e bem compostos. Para que o trabalho tenha sucesso, é importante envolver os pais. É comum eles quererem ver as tais figuras desenhadas por adultos e coloridas pelos filhos na pasta de atividades no final do bimestre. Por isso, na próxima reunião, explique a importância do desenvolvimento criativo.
 


Mundo colorido 






Crianças de 4 anos geralmente já têm noção de espaço e desenham dentro do limite da folha, mas ainda não estabelecem uma escala de tamanho nem conhecem bem as cores. Uma árvore inteira pode ser pintada de verde e ser do tamanho de uma flor. 

Para que os pequenos ampliem seu universo pictórico e percebam a diversidade de tons, formas e tamanhos, Nilciane Azamor Souza, professora da escola Gente Miúda, os leva para o parque. "Peço que prestem atenção nos detalhes das folhas, das flores, do tronco e da raiz e no tamanho da árvore em relação a outras plantas." Em classe, ela sugere que eles lembrem do que foi visto e pintem com guache e pincel.
 

Isso estimula a capacidade de reproduzir o que viram e permite perceber que o material e o suporte influenciam o desenho.
 

O que se vê 







Foto: Reprodução
Estimulada pela professora Rosângela, a turma de 5 anos da Escola Papa João Paulo II desenvolve a percepção eo desenho dos detalhes do rosto. Tocando-se, os pequenos vão percebendo a textura dos cílios, o contorno da boca, o traçado das sobrancelhas e as curvas das orelhas. Eles também observam a própria imagem no espelho e capricham nos detalhes ao desenhar cada uma dessas partes do rosto. Na hora de fazer o desenho de observação, um colega vira modelo ao se colocar dentro de uma moldura. Atento à representação que os colegas fazem dele, alerta que está faltando a orelha, que seu nariz não é assim etc. Um intervém no desenho do outro e, nessa troca, todos aprendem.

Teoria 

As etapas do grafismo*
As fases a seguir se sucedem, mas a idade em que elas se manifestam varia 

De 2 a 4 anos - Garatuja 
Desordenada - Movimentos amplos e aleatórios que não respeitam o limite da folha.
Ordenada - Os rabiscos seguem o limite do papel.
Foto: Reprodução



Nomeada - Os rabiscos ganham nome: papai, nenê, mamãe.
Foto: Reprodução
De 4 a 6 anos - Pré-esquema 
Boneco girino - Tem início o desenho da figura humana, com braços e pernas que saem da cabeça. Mais adiante, os membros saem do corpo. 

Exagero - Não há proporção nem perspectiva. As figuras são grandes ou pequenas demais. 

Omissão - Faltam partes do corpo ou do rosto. Um braço pode ser mais comprido que o outro. 

Justaposição - As figuras são misturadas na folha, sem linha de base (chão e céu). Não há organização espacial. O sol pode surgir na parte de baixo.





Foto: Reprodução
*de acordo com Viktor Lowenfeld (1947-1977)

Fonte: Avaliação Escolar do Desenho Infantil: Uma Proposta de critérios Para Análise, tese de Mônica Cintrão

Garatujas 

No início do ano, as turmas da escola Santiago de Compostela que completam 2 anos no período letivo desenham garatujas desordenadas e rabiscos aleatórios que extrapolam o limite do papel. Todos os dias, durante dois meses, a professora Beatriz Massini Tartalho incentiva a prática do desenho com lápis de cor e grafite, giz de cera e caneta hidrocor. Desenhando e observando o trabalho dos colegas, a criança percebe o limite da folha e ordena as garatujas. "Quando o tema é livre, os pequenos fazem movimentos ampols e desordenados, sem pensar na figura. Se o tema é bicho, eles começam a imaginar uma imagem e desenham formas mais definidas", diz Beatriz. Logo, estão dando nome aos desenhos.
 

Alimento estético








Foto: Gilvan Barreto
A professora Rosângela leva para a sala de aula reproduções de arte de qualidade de diversas épocas e lugares. Escolhe bons artistas, valoriza os contemporâneos e dá preferência às cópias com boa definição. O material fica na caixa de imagens, guardada sobre uma bancada, ao alcance de todos e ao lado de lápis, giz, canetas hidrocor e papéis de vários formatos, tudo separado por cores. Toda semana, ela atualiza o cantinho da apreciação, um cartaz com fotos de rostos recortados de revistas e cartões- postais com obras contemporâneas e auto-retratos de artistas como Vincent van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso e Joan Miró (1893-1983). É para lá que as crianças vão sempre que têm vontade ou sentem necessidade de buscar uma referência enquanto desenham. 

Arte comentada








Foto: Gilvan Barreto
Na roda de apreciação, aparecem descobertas individuais e coletivas sobre a arte que todos estão produzindo. Alguns dias após terem feito um desenho, as crianças da turma da professora Rosângela sentam-se em círculo para explicar o que observaram no próprio trabalho, fazer comentários sobre o desenho dos colegas e relacionar as obras com as figuras que viram na caixa de imagens. A professora dá chance a cada um deles de falar sobre sua produção, sem atribuir valor estético. Assim, todos vão construindo um repertório pictórico.
Aprimorar o desenho...
- Possibilita a expressão pela linguagem pictórica, além da oral e escrita. 
- Mostra o valor da arte na vida e na sociedade.
 
- Evita o empobrecimento gráfico e a produção de trabalhos estereotipados.
Quer saber mais?
CONTATOS
Centro de Educação Infantil Gente Miúda, R. Julia Wanderlei, 1205, 80710-210, Curitiba, PR, tel. (41) 3335-4425 
EMEI Papa João Paulo II, R. Paulo Arentino, 870, 02998-140, São Paulo, SP, tel. (11) 3949-6814 
Instituto de Educação Santiago de Compostela, R. Luis Molina, 70, 04116-280, São Paulo SP, tel. (11) 5572-0071

BIBLIOGRAFIA
Arte na Sala de Aula - Cadernos da Escola da Vila 1, Zélia Cavalcanti, 80 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 30 reais 
Para Gostar de Aprender Arte - Sala de Aula e Formação de Professores, Rosa Iavelberg, 128 págs., Ed. Artmed, 34 reais

Foto: Reprodução

terça-feira, 11 de março de 2014

O que uma criança deve saber aos 4 anos de idade?

             Nesse mundo contemporâneo, ter, ser, saber, parecem fazer parte de uma competição. Nesse mundo, alguns pais e algumas mães acabam acreditando que é preciso que seus filhos saibam sempre mais que os filhos de outros. E isso sim seria, então, sinal de adequação e o mais importante: de sucesso.  
                    O que uma criança deve saber aos 4 anos de idade? Essa foi a pergunta feita por uma mãe, em um fórum de discussão sobre educação de filhos, preocupada em saber se seu filho sabia o suficiente para a sua idade.
               Segundo Alicia Bayer, no artigo publicado em um conhecido portal de notícias americano – The Huffington Post –, o que não só a entristeceu, mas também a irritou, foram as respostas, pois ao invés de ajudarem a diminuir a angústia dessa mãe, outras mães indicavam o que seus filhos faziam, numa clara expressão de competição para ver quem tinha o filho que sabia mais coisas com 4 anos. Só algumas poucas indicavam que cada criança possuía um ritmo próprio e que não precisava se preocupar.  
                  Para contrapor às listas indicadas pelas mães (em que constavam itens como: saber o nome dos planetas, escrever o nome e sobrenome, saber contar até 100), Bayer organizou uma lista bem mais interessante para que pais e mães considerem o que uma criança deve saber.

Vejam alguns exemplos abaixo:

- Deve saber que a querem por completo, incondicionalmente e em todos os momentos.

- Deve saber que está segura e deve saber como manter-se a salvo em lugares públicos, com outras pessoas e em distintas situações.

- Deve saber seus direitos e que sua família sempre a apoiará.

- Deve saber rir, fazer-se de boba, ser vilão e utilizar sua imaginação.

- Deve saber que nunca acontecerá nada se pintar o céu de laranja ou desenhar gatos com seis patas.

- Deve saber que o mundo é mágico e ela também.

- Deve saber que é fantástica, inteligente, criativa, compassiva e maravilhosa.

- Deve saber que passar o dia ao ar livre fazendo colares de flores, bolos de barro e casinhas de contos de fadas é tão importante como praticar fonética. Melhor dizendo, muito mais importante.

E ainda acrescenta uma lista que considera mais importante. A lista do que os pais devem saber:

- Que cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer cálculos a seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos posteriormente.

- Que o fator de maior impacto no bom desempenho escolar e boas notas no futuro é que se leia às crianças desde pequenas. Sem tecnologias modernas, nem creches elegantes, nem jogos e computadores chamativos, se não que a mãe ou o pai dediquem um tempo a cada dia ou a cada noite (ou ambos) para sentar-se e ler com ela bons livros.

- Que ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa da turma nunca significou ser a mais feliz. Estamos tão obstinados em garantir a nossos filhos todas as “oportunidades” que o que estamos dando são vidas com múltiplas atividades e cheias de tensão como as nossas. Uma das melhores coisas que podemos oferecer a nossos filhos é uma infância simples e despreocupada.

- Que nossas crianças merecem viver rodeadas de livros, natureza, materiais artísticos e a liberdade para explorá-los. A maioria de nós poderia se desfazer de 90% dos brinquedos de nossos filhos e eles nem sentiriam falta.

- Que nossos filhos necessitam nos ter mais. Vivemos em uma época em que as revistas para pais recomendam que tratemos de dedicar 10 minutos diários a cada filho e prever um sábado ao mês dedicado à família. Que horror! Nossos filhos necessitam do Nintendo, dos computadores, das atividades extraescolares, das aulas de balé, do grupo para jogar futebol muito menos do que necessitam de nós. Necessitam de pais que se sentem para escutar seus relatos do que fizeram durante o dia, de mães que se sentem e façam trabalhos manuais com eles. Necessitam que passeiem com eles nas noites de primavera sem se importar que se ande a 150 metros por hora. Têm direito a ajudar-nos a fazer o jantar mesmo que tardemos o dobro de tempo e tenhamos o dobro de trabalho. Têm o direito de saber que para nós são uma prioridade e que nos encanta verdadeiramente estar com eles.

Então, o que precisa mesmo – de verdade – uma criança de 4 anos?

Muito menos do que pensamos e muito mais!

http://todacriancapodeaprender.org.br/infancia-nao-e-carreira-e-filho-nao-e-trofeu/
Traducción de María Luisa Rodríguez Tapia


O que um bom projeto para Educação Infantil precisa ter?
Ao escolher trabalhar com projetos, o professor de Educação Infantil precisa ter foco e clareza de seus objetivos. Um bom planejamento o ajudará a avaliar de forma permanente o projeto e a escolher intervenções adequadas para responder às demandas das crianças durante o percurso
Clélia Cortez - Revista Nova Escola ( www.novaescola.org.br)
1. Por que trabalhar com projetos na Educação Infantil?
Proponho uma reflexão sobre os sentidos da realização de projetos na Educação Infantil e os desdobramentos dessa escolha metodológica na ação educativa.
São vários os aspectos que devem ser considerados quando o professor escolhe esta modalidade organizativa para desenvolver sua ação com as crianças. O primeiro e, sem dúvida, o mais importante é o sentido que pode ser atribuído às aprendizagens. Muitas vezes ouvimos os profissionais envolvidos no trabalho com crianças pequenas contarem que desenvolvem projetos para trabalhar diversos temas visando alcançar diferentes objetivos.
Há projetos que têm como foco o desenvolvimento de comportamentos leitores ou visam à aproximação com determinados conceitos científicos ou fatos históricos, enquanto outros são voltados para os conhecimentos em arte. Enfim, são inúmeras as possibilidades de pesquisas feitas com as crianças que podem ser organizadas por meio desta forma de trabalho.
Os projetos podem reunir uma série de condições favoráveis para que a escola assuma sua maior responsabilidade: promover a construção de novos conhecimentos com sentido e profundidade. Mas, para que isso ocorra, quais são os pontos a que o professor deve prestar atenção?
Um aspecto muito importante é a escolha do tema. A quem cabe essa decisão: ao professor ou à criança? Reflexões feitas por professores em encontros de formação têm nos mostrado que a ideia de que um projeto só é significativo quando surge com base no que as crianças propõem é inconsistente. Algumas vezes, inclusive, sem que tenha consciência disso, o professor afirma que baseia a sua prática em uma abordagem democrática, mas, ao analisarmos com cuidado o planejamento e suas escolhas, vemos que as decisões consideraram mais o ponto de vista do adulto do que o da criança.

2. Foco do professor deve ser a ampliação dos saberes
As crianças são ávidas por conhecimento e o adulto pode potencializar esse interesse por tantos assuntos oferecendo boas perguntas e bons cenários de pesquisa. Isso não significa que o professor deve conduzir as ações considerando exclusivamente seu ponto de vista. Ao contrário, um projeto visa dar sentido às aprendizagens e isso ocorre desde o início, com a escuta do que pensam e narram as crianças e a relação que ele estabelece entre essa escuta e os propósitos de aprendizagens escolhidos para a atividade.
O papel do professor na condução de um projeto é de mediador, um provocador de novos sentidos e curiosidades. A intervenção acontece quando as crianças pedem e também quando ele mesmo vê essa necessidade e considera que há tempo adequado para acrescentar novas perguntas ou informações.
A atuação do professor, embora não tenha caráter direcionador, em nenhum momento deve ser de abandono. É preciso oferecer apoio constante para ampliar os saberes que circulam no grupo. A cada momento, o professor toma uma atitude que considera a curiosidade das crianças, as intenções da pesquisa, a possibilidade de intercâmbio de opiniões, a negociação conjunta durante os momentos de socialização (que, aliás, é uma intervenção permanente no projeto) e a oportunidade de sistematizar os conhecimentos construídos pelo grupo para serem retomados e discutidos ao longo do processo.
Outro aspecto que merece atenção é o desenvolvimento do percurso de trabalho. Quando o professor decide envolver um grande número de áreas em um mesmo projeto, não há dúvida de que ele possui a boa intenção de ampliar os conhecimentos das crianças. Contudo, é importante considerar que o excesso de conteúdos pode comprometer o aproveitamento de todo o potencial de conexões entre os assuntos e a construção de alguns conceitos. Para que a aprendizagem ocorra, é preciso envolver as crianças com regularidade em contextos de pesquisa em torno de um mesmo assunto e permitir que haja possibilidade de errar, socializar pensamentos, perguntar e estabelecer relações entre um conhecimento e outro.
Quando o planejamento e o desenvolvimento de um projeto transitam por muitos temas, as crianças podem não aprofundar seu conhecimento. E o conteúdo que, inicialmente, deveria estar no foco da intenção educativa termina por ser abordado somente de maneira superficial.

3. Projeto bem planejado é o que dá mais oportunidade de aprender
Estabelecer um foco durante o planejamento do projeto é essencial para que as crianças possam experimentar de fato o papel de pesquisadoras e serem protagonistas de sua aprendizagem. Quando são fornecidos tempo e condições para a continuidade do pensamento em torno de um assunto, as crianças têm mais oportunidades de elaborar novas conexões e isso, com certeza, pode envolver outras áreas do conhecimento. Mas é importante não perder a dimensão das expectativas de aprendizagens e pensar em intervenções que possam tanto relacionar como aprofundar os conceitos das diferentes áreas que serão trabalhadas.
Por exemplo, se o professor tem intenção de trabalhar as características dos animais marinhos em Ciências, é interessante que selecione boas referências de textos informativos para apresentar às crianças. Mas isso não é suficiente para afirmar que está tratando de procedimentos característicos das Ciências.
Muitas vezes, o trabalho fica mais voltado para a leitura do que para a investigação científica propriamente dita. Claro que isso não é um problema, se a escolha do projeto for apenas trabalhar com textos de caráter informativo e muitas produções interessantes podem surgir disso.
Porém, se o professor deseja trabalhar tanto com leitura e escrita como com os conteúdos de Ciências, é preciso estar atento a algumas questões. Nesse caso, o projeto deve desenvolver atividades relacionadas à leitura e à escrita como: leitura feita pelo professor, procedimentos para o estudo de um texto, seleção de elementos que dialogam com a curiosidade das crianças, registro pelo professor de textos orais elaborados pelo grupo etc.
E, para abordar os conteúdos de Ciências, esse mesmo projeto deve incluir observação de fatos e fenômenos, formulação de hipóteses, demonstrações e experimentos, reflexão sobre as leituras em diferentes fontes, registros, além das discussões e conclusões feitas de forma coletiva e individuais. Ou seja, também devem estar presentes atividades que fomentem a curiosidade e a construção de novos questionamentos relacionados às Ciências.

4. Curiosidade orienta o desenvolvimento do projeto e a ação do professor
Outro ponto a ser discutido é o tratamento destinado à curiosidade das crianças. Segundo o dicionário Houaiss, a palavra curiosidade está relacionada com o "desejo intenso de ver, conhecer, experimentar alguma coisa nova, original, pouco conhecida ou da qual nada se conhece"; "vontade de aprender, saber, pesquisar", ou ainda, "desejo irrequieto".
É inegável que as crianças possuem desejo constante de novos conhecimentos e isso pode ser explorado cuidadosamente em um projeto. Cabe ao professor selecionar o que é essencial para determinado processo de pesquisa e cuidar para que as perguntas elaboradas sejam de fato ferramentas para a reflexão.
Trabalhar a curiosidade significa promover a interação da criança com ambientes desafiadores que guiem seu pensamento para o que está em foco na investigação. É preciso ter em mente que os contextos planejados podem tanto alargar as experiências como restringi-las. Por isso, colocar as crianças como protagonistas de suas aprendizagens significa interagir com as suas narrativas e expressões, interpretá-las e sempre relacioná-las com a intencionalidade do projeto.
Essa não é uma tarefa simples. Exige reflexões constantes por parte do professor durante o planejamento e a ação. Por exemplo, se a intenção é gerar contextos significativos de leitura que favoreçam a imersão das crianças nas narrativas de qualidade, o professor pode planejar seu projeto levando em consideração a seguinte questão: o ambiente criado para a leitura (o acervo, o acesso aos livros na biblioteca, a organização do espaço da sala etc.) é convidativo?
Outras perguntas podem ser feitas: ao realizar a leitura do livro Chapeuzinho Vermelho em voz alta, por exemplo, o que as crianças poderão aprender com essa situação? Que intervenções podem ser antecipadas com base nas intenções de aprendizagem do projeto? A sequência de planejamento do projeto garante espaços para que as crianças recuperem e compartilhem suas observações sobre os textos apreciados? Com base nos conhecimentos que apresentam e, de acordo com o que foi colocado como intenção de aprendizagem, o que é preciso contemplar nos próximos planejamentos? Como esse projeto pode contribuir para que a leitura seja uma ação permanente na rotina do grupo?
Perguntas como essas podem ajudar o professor a conhecer mais as crianças com as quais trabalha e também a refletir sobre os objetivos e encaminhamentos pensados para o projeto.

5. Planejar sem abrir mão da flexibilidade

Outros aspectos que merecem destaque estão relacionados ao planejamento das etapas do projeto didático e a socialização de seus propósitos com o grupo. Cada situação planejada precisa apresentar bons problemas e relacionar os conhecimentos prévios das crianças com os novos, segundo o que o professor considera pertinente.
Há uma relação estreita entre o conjunto de intenções levantadas pelo professor e que foi compartilhado com as crianças como sendo as metas do projeto. Se o professor tem como objetivo principal ampliar o conhecimento sobre contos de fadas e combinou com elas a escolha dos textos para leitura e apresentação à comunidade escolar, é importante planejar situações que garantam a apropriação de determinadas noções antes de chegar a esse propósito final.
Portanto, o professor deve garantir a continuidade e diversidade de leitura dos contos, selecionar com as crianças os preferidos, ler daqueles que serão recontados, registrar e revisar os textos ditados, enfim, envolver as crianças de fato na resolução do problema que foi compartilhado durante o projeto.
O desafio (que, sem dúvida, requer empenho) é criar condições para que expandam as suas experiências e não para que fiquem dando voltas em torno do que já sabem.
Vale salientar que o planejamento, além de dialogar o tempo todo com as intenções de aprendizagem, demanda flexibilidade nas intervenções, pois não é possível prever tudo o que as crianças podem falar, pensar e relacionar após serem estimuladas por perguntas, pelos contextos de pesquisa, pelo acesso às informações de variadas fontes e, sobretudo, pela socialização dos conhecimentos com o grupo.
Ao trabalhar com projetos, o professor torna-se também um pesquisador do pensamento das crianças, dos conhecimentos pertences à cultura e da sua própria prática. Depois de um intenso movimento de investigação com e sobre as crianças é impossível não aprender também sobre si mesmo.